CONTROLE DE PARASITAS INTERNOS EM OVINOS

 

 

SÁ,J.L. & OTTO DE SÁ,C.

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INTRODUÇÃO

    As helmintoses gastrointestinais, especialmente aquelas causadas pelos nematodeos é o maior problema de saúde que prejudica a produção ovina. As perdas econômicas causadas pelo parasitismo podem ser extensivas. A taxa de crescimento diminui e a perda de peso é comum; ocorre redução na produção de lã; pobre performance reprodutiva; a produção de leite diminui, tendo como conseqüência baixos pesos dos cordeiros; gastos com medicamentos e alta mortalidade.

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SINAIS

   O prejuízo econômico causado pelos parasitas gastrointestinais está relacionado com as perdas de nutrientes e danos na mucosa intestinal. Alguns parasitas causam hemorragias devido à característica de sugar sangue e a anemia é um sinal característico. Outros causam perda de peso e os animais apresentam sinais de má nutrição devido à falta de apetite, diarréia e perda de nutrientes. Infecções secundárias também contribuem para a severidade do problema em muitos casos.

    Os sinais do parasitismo gastrointestinal podem variar com o grau da infestação. Animais com um parasitismo intenso, geralmente demonstram sinais de fraqueza, perda de peso severa e diarréia. Quando perdem proteína sanguínea podem apresentar um edema submandibular, isto é, um aumento de volume na região da mandíbula que é acompanhado por uma anemia intensa. Já em casos crônicos ou em verminoses menos severas, os sinais não são tão evidentes. Estes animais podem ter diarréias intermitentes, redução no ganho ou até mesmo, perda de peso, pobre performance reprodutiva e diminuição na produção de lã e leite. O parasitismo inaparente ou subclínico, embora não cause a morte, é responsável por perdas econômicas significativas, pois o animal não consegue expressar todo o seu potencial produtivo.

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CICLO DE VIDA DO PARASITA

   O ciclo de vida do parasita é complexo e varia com as condições ambientais. A forma adulta, que reside no ovino, deposita os ovos nas fezes e estes são eliminados nas pastagens. Dependendo do ambiente e do parasita, em duas ou três semanas os ovos eclodem e as larvas atigem o estágio de L3 (larva infectante). A larva L3 é então consumida pelos ovinos e pode evoluir para a forma adulta (larva L4) ou permanecer em estágio dormente (hipobiose) dentro do animal. A hipobiose ocorre para que a larva sobreviva a condições ambientais desfavoráveis, como no inverno. Em condições estressantes para o ovino, ou quando cai a sua resistência, a larva em hipobiose sai da dormência e pode se manifestar.

    O tempo de vida do parasita nas pastagens é muito variável. Existem relatos de que as larvas podem sobreviver até 1 ano no pasto, o que dificulta o controle da verminose através de períodos curtos de descanso dos piquetes.

 

Figura – Ciclo de vida de um nematódeo.

 

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CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E O CONTROLE DA VERMINOSE

   As espécies de nematódeos intestinais e suas prevalências são muito variáveis, já que dependem dos fatores topográficos, temperatura, precipitação pluviométrica, pastagem e outros que predominam em uma área em estudo.

    Em regiões de criação ovina com estações climáticas bem definidas, o uso de medicações estratégicas pode ser aplicado. Nos países de clima tropical, geralmente, a média de temperatura anual não varia substancialmente.     Possivelmente, o fator decisivo na prevalência das espécies de parasitos gastrointestinal seria a quantidade e a freqüência das chuvas. Onde as estações de chuva e seca são bem típicas, as derverminações táticas antes da estação chuvosa e na estação seca, visando diminuir a contaminação das pastagens, podem ser indicadas de acordo com dados epidemiológicos locais. Entretanto, em lugares onde o índice pluviométrico se mantém alto ao longo do ano, a aplicação estratégica de vermífugos é praticamente impossível. Por isso, o controle da verminose ovina com suporte laboratorial, é considerado o método mais prático e seguro.

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ANIMAIS SUSCEPTÍVEIS À VERMINOSE

   A verminose acomete todos os ovinos em um rebanho, mas existem algumas categorias que são mais sensíveis.

IDADE - os cordeiros jovens sofrem mais com a verminose. Com 14 dias eles começam a consumir alimentos sólidos e, conseqüentemente, a ingestão de pasto vai aumentando gradativamente a partir desta idade. Em casos de alta lotação das pastagens, é comum cordeiros com 45 dias de idade, diminuírem sua taxa de crescimento e até morrerem por causa dos vermes.

ESTADO NUTRICIONAL - animais mal nutridos podem apresentar sinais de verminose e morrerem por causa de um grau de infestação por vermes que em animais bem nutridos poderia passar despercebido.

ESTRESSE - o estresse contribui para uma queda de resistência dos animais o que pode torna-los mais susceptíveis a problemas com a verminose. Portanto, é importante estar preparado para esta situação quando se realiza transporte de ovinos ou diante de qualquer situação estressante.

ESTADO FISOLÓGICO - O terço final da gestação é um dos períodos em que o animal necessita de altos níveis de nutrientes, pois é o momento destinado ao crescimento fetal. Desta forma, a alimentação canaliza-se prioritariamente ao cordeiro, e a ovelha torna-se mais sensível à verminose. O stress provocado pelo parto também contribui para o aumento na postura de ovos de parasitas. Este mesmo fato ocorre com fêmeas lactantes, destacando-se, principalmente as de parto gemelar. Como a urgência após o parto é a produção leiteira, estas fêmeas chegam a perder peso e, dificilmente as suas exigências nutricionais são completamente atendidas. Este momento também se agrava com o desenvolvimento de larvas hipobióticas, com o estabelecimento de novas larvas infectantes e com o aumento da fecundidade dos vermes adultos. Já com relação aos cordeiros no pós desmame, a interrupção da lactação leva a uma condição de stress, tornando estes animais também mais sensíveis à verminose e, se houver como agravante um manejo sanitário inadequado, culminará no aumento da mortalidade. Desta forma, cria-se um ciclo que produz um rápido aumento no grau de infestação dos animais e dos campos, sendo maior o problema quando o cordeiro permanece por um período prolongado de tempo com a mãe, estabelecendo-se uma competição entre mães e filhos pelos pastos e concentrados disponíveis, sendo que, a própria ovelha contamina com ovos de parasitas as pastagens que servem de alimento para os cordeiros.

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CONTROLE DA VERMINOSE ATRAVÉS DA COLETA DE FEZES E EXAMES LABORATORIAIS

   A coleta de fezes deve ser feita a cada 28 dias, por categoria e/ou por piquete. Em rebanhos pequenos devem ser colhidas no mínimo 10 a 15 amostras. Em rebanhos grandes deve-se colher 10% de cada categoria ou lote. As fezes devem ser retiradas diretamente do reto, acondicionadas individualmente em frascos ou sacos de plásticos identificados e preservadas no gelo até a chegada no laboratório. Quando a contagem média de opg (ovos por grama de fezes) for superior a 500, a aplicação de vermífugo é recomendada. Sete dias após a desverminação deve-se realizar outra coleta de fezes, dos mesmos animais, para verificar a eficácia do verrmífugo utilizado, que deverá ser superior a 90%. Em casos de dúvidas quanto ao resultado do opg, principalmente quando não há redução do mesmo na coleta de fezes seguinte, recomenda-se fazer o cultivo de larvas, para se verificar o gênero do helminto responsável pelo suposto fracasso da medicação utilizada.

    O uso de vermífugos através deste critério permite a manutenção de uma carga residual de vermes no rebanho que funciona como uma pré-munição e permite a sobrevivência de vermes sensíveis à medicação, os quais competem naturalmente com as estirpes resistentes, o que não acontece com as medicações regulares supressivas. Tem-se verificado que quanto maior for a pressão anti-helmíntica nos rebanhos, mais rapidamente se estabelece a resistência. Por isso, a desverminação mensal do rebanho não é adequada, por tornar os vermes resistentes aos diferentes tipos de vermífugos.

 

Figura – Ovos de diferentes parasitas que são encontrados nas fezes.

 

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PERÍODOS ESTRATÉGICOS DE DESVERMINAÇÃO

 

   Existem determinados períodos em que a desverminação é fundamental:

a) Carneiros e ovelhas antes da estação reprodutiva

b) Ovelhas nas últimas duas semanas de gestação (cuidar com o manejo das ovelhas e princípio ativo dos vermífugos para evitar abortos)

c) Ovelhas no início da lactação

d) Cordeiros e ovelhas no desmame

    Para as demais categorias e períodos, colher as fezes mensalmente para verificar a necessidade real da aplicação de vermífugos.

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OUTRAS MEDIDAS PARA CONTROLAR A VERMINOSE EM UM REBANHO

   Os vermífugos não podem por si só resolver satisfatoriamente o controle da verminose ovina. Muito pelo contrário, o uso indiscriminado de anti-helmínticos, causando resistência dos parasitas, é um problema sério que deve ser evitado. Portanto, cuidados na aplicação destes medicamentos e outras medidas de controle precisam ser considerados.

 

* DOSE DO VERMÍFUGO

    A subdosagem tem que ser evitada, por isso, quando pistolas dosificadoras são utilizadas, tem que se verificar se estão dosando corretamente. Quando não há como pesar os animais, deve-se estimar a dose com base no animal mais pesado da categoria e utiliza-la para todos os animais. Nunca aplicar doses abaixo da recomendada por ser uma das causas da resistência dos parasitas.

* MANEJO NA DESVERMINAÇÃO

    Aplicar corretamente o vermífugo e se certificar para que todos os animais sejam desverminados quando for necessário.

* HORA DA APLICAÇÃO DO VERMÍFUGO

    Quando no manejo de uma propriedade os animais são recolhidos durante a noite em apriscos com piso ripado, a desverminação deve ser realizada no fim da tarde para que os animais permaneçam por no mínimo 8 horas presos, eliminando os ovos de parasitas em local apropriado e não contaminando as pastagens.

* CONTATO COM AS FEZES

    O piso ripado, que permite que as fezes caiam e fiquem distantes dos animais, é indicado em instalações para controlar a verminose. O local onde as fezes ficam depositadas deve ser isolado. O confinamento é recomendado para evitar a verminose em cordeiros, mas se o piso não for adequado e a alimentação for contaminada com os ovos dos parasitas, este tipo de manejo não será eficiente.

* AQUISIÇÃO DE OVINOS

    Animais adquiridos de outras propriedades ou região devem ser avaliados através dos exames de fezes e, se necessário, desverminados antes de serem colocados junto com outros animais e nas pastagens.

* PASTAGENS

    Atenção especial deve ser dada aos animais quando forem colocados em novas pastagens que estavam sem animais por um longo período. Coletas de fezes e desverminações são recomendadas antes dos animais entrarem nos piquetes, para evitar a contaminação.

    As pastagens utilizadas principalmente por ovelhas e cordeiros podem ser descontaminadas utilizando-se bovinos adultos por um período mínimo de 3 meses. O rodízio das áreas de pastejo com a agricultura é outra opção para reduzir a utilização de vermífugos no rebanho. É importante ter em mente que não se consegue manter um rebanho sadio em pastagens doentes.

* DESMAME PRECOCE E CONFINAMENTO

    Em criações intensivas onde a lotação das pastagens é elevada, os cordeiros são muito prejudicados pela verminose. Entretanto, existem técnicas de manejo que contornam este problema. O desmame precoce, a aplicação de vermífugo nos cordeiros e o confinamento dos mesmos em instalações apropriadas, são exemplos do controle da verminose ovina através do manejo.

* OBSERVAÇÃO DOS ANIMAIS

    Sempre que os animais forem manejados para tosquia, pesagem, casqueamento, deve-se observa-los cuidadosamente com relação ao comportamento, consistência das fezes, e verificar se a mucosa ocular se encontra de coloração rósea, indicando ausência de anemia.

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