SISTEMAS DE REPRODUÇÃO

 

SÁ,J.L & OTTO DE SÁ,C.

 

VOLTA

    Os sistemas de reprodução variam nas diferentes regiões e até mesmo entre os rebanhos. A monta pode ocorrer ao longo do ano, sem controle das coberturas, ou então, através de métodos mais sofisticados, como o da inseminação artificial.

 

MONTA NÃO CONTROLADA

   Em alguns sistemas muito extensivos, os machos e fêmeas permanecem juntos o tempo todo, sem nenhum controle das coberturas. Neste tipo de manejo fica difícil selecionar os animais e a consangüinidade ocorre de forma não programada. Com o manejo reprodutivo desorganizado e as coberturas não se concentrando em um determinado período, todas as demais atividades com o rebanho ficam prejudicadas. Este tipo de sistema reprodutivo não permite uma avaliação precisa da criação pela dificuldade de se obter as taxas produtivas e reprodutivas.

 

ESTAÇÃO DE MONTA

   Em rebanhos comerciais a reprodução deve ocorrer em uma determinada época do ano, concentrando desta forma, os nascimentos dos cordeiros. O cuidado na escolha do período reprodutivo, conhecido como estação de monta, é importante por influenciar positivamente ou negativamente as taxas de fertilidade, nascimento e desmame de cordeiros. Alguns fatores devem ser lembrados ao se determinar o período ideal de reprodução:

 

a) Fertilidade - como as ovelhas apresentam maior fertilidade em períodos do ano em que a luminosidade ou o comprimento dos dias está diminuindo, a estação de monta deve ocorrer no final do verão e/ou início do outono. Esta relação entre a luminosidade e a fertilidade é maior nas regiões de clima temperado, onde a diferença entre o dia mais comprido (21 de dezembro) e o mais curto (21 de junho) do ano é grande.

 

b) Alimentação - as coberturas devem ser programadas de forma que na fase final de gestação e início da lactação, exista disponibilidade de alimentos. Portanto, se na propriedade as pastagens são de campo nativo ou de pastos perenes de verão, onde a maior disponibilidade é na primavera e verão, as coberturas devem se concentrar nos meses de abril e maio, para que os nascimentos ocorram a partir de setembro. No caso de propriedades localizadas em regiões de clima temperado, onde se faz o plantio de pasto de inverno (aveia, azevém), os nascimentos podem ocorrer em pleno inverno, para que este tipo de pastagem de alta qualidade, seja aproveitado para as ovelhas no final da gestação e na lactação. Para isso, as coberturas devem se concentrar nos meses de fevereiro e março e os nascimentos em julho e agosto.

 

c) Clima – os cordeiros são extremamente sensíveis a invernos rigorosos, principalmente, se acompanhados por chuvas freqüentes. Por isso, em criações extensivas, onde os cordeiros nascem no campo, sem qualquer proteção contra as condições ambientais desfavoráveis, deve-se evitar que a estação de nascimentos coincida com o período mais frio do ano, principalmente em regiões onde o inverno, além de rigoroso, é úmido; onde não se faz o plantio de pastos de inverno e onde não se têm condições de abrigar as ovelhas com os seus respectivos cordeiros em apriscos ou estábulos. Neste caso, as coberturas devem se concentrar nos meses de abril e maio para que os nascimentos ocorram na primavera.

 

d) Mercado – se existir um maior consumo de cordeiros no final do ano, por causa do natal, as coberturas devem ocorrer o mais próximo possível do início do ano, para que se tenha tempo suficiente para a gestação, nascimento, aleitamento e engorda dos cordeiros até dezembro. Para se conseguir peso de abate dos cordeiros em dezembro, as coberturas deve se concentrar em fevereiro e os nascimentos em julho. Os cordeiros devem ser criados em sistemas mais intensivos de produção.

 

    A duração da estação de monta deve ser suficiente para que as ovelhas apresentem pelo menos 3 cios, ou melhor, tenham 3 chances de serem fecundadas. Como na época reprodutiva, a ovelha ovula e apresenta os sinais do cio a cada 16-17 dias, a estação de monta deve ter uma duração de 49 a 56 dias. Este é o único período do ano em que os reprodutores permanecem junto com as ovelhas neste sistema de reprodução. A relação macho:fêmea varia largamente. Quando reprodutores adultos são utilizados, trabalha-se em média com 1 macho para 40 a 50 fêmeas, podendo chegar a 1:100 quando os piquetes são pequenos ou 1:30 em áreas grandes e acidentadas. A relação macho:fêmea precisa ser ajustada quando são utilizados borregos, quando se faz a estação de monta no período de anestro sazonal ou quando o cio das ovelhas é sincronizado. Nestes casos, não se deve trabalhar com mais de 25 fêmeas para um único macho. Os carneiros podem servir 10 ovelhas por dia por um período de 4 dias ou 8 a 10 ovelhas em 24 horas no campo. Os carneiros podem ejacular 11 a 17 vezes por dia se forem estimulados pela presença de fêmeas em cio, sendo capazes de manter a qualidade do sêmen por um período de 6 dias. Entretanto, alguns animais reduzem o número de espermatozóides no ejaculado, abaixo da quantidade ideal para a fertilização, quando submetidos a uma atividade sexual intensa. Portanto, se o número de fêmeas por macho for reduzido de 100 para 25, mais carneiros poderão montar nas ovelhas em cio, e mais fêmeas serão fertilizadas nas primeiras duas semanas da estação de monta. Dois picos diários de atividade reprodutiva são observados: das 4 às 8 horas e da 16 às 20 horas, coincidindo com o amanhecer e o entardecer.

    O ideal seria trabalhar com um único reprodutor para cada lote de 30-40 fêmeas em cada piquete. Isto permitiria conhecer a paternidade dos cordeiros e evitaria possíveis brigas e dominâncias de reprodutores. Entretanto, nem sempre isto é possível. Por isso, quando mais machos são colocados em um mesmo piquete, deve-se lembrar que brigas podem ocorrer e não se recomenda fazer lotes muito grandes de fêmeas que exijam mais de 3 reprodutores. Uma forma de conhecer a paternidade dos cordeiros e trabalhar com um número elevado de fêmeas para cada macho, seria realizar a monta controlada ou dirigida. Neste tipo de procedimento, as fêmeas permanecem no campo com os rufiões. Todo dia, é passado no peito do rufião uma mistura de tinta xadrez com graxa. Ao montar, ele marca a fêmea em cio e esta é levada até o reprodutor que fica alojado em uma baia do aprisco. O reprodutor recebe somente as ovelhas em cio não tendo o desgaste de andar no campo identificando estes animais. As ovelhas permanecem com o reprodutor por 48 horas e depois retornam para o lote das ovelhas com o rufião. A cada 14 dias troca-se a cor da tinta do rufião. Se a fêmea for novamente marcada com outra cor é porque ainda não foi fecundada e deve retornar para o reprodutor. Utiliza-se em média 1 rufião para cada 50 ovelhas. Mão de obra qualificada é exigida para trabalhar em um sistema de reprodução que utiliza a monta dirigida. Se este manejo não for realizado com atenção e responsabilidade poderá resultar em uma menor taxa de fertilidade.

VOLTA

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

   A inseminação artificial tem uma grande importância quando se deseja disseminar as características de um grupo selecionado de animais em uma população de ovinos. Técnicas adequadas estão disponíveis e os resultados com sêmen fresco são positivos. O cio das ovelhas é induzido e/ou sincronizado e detectado através de rufiões, normalmente vasectomizados. O sêmen é colhido dos reprodutores através de vagina artificial ou, em algumas circunstâncias, obtido através de estímulos elétricos pela utilização do eletroejaculador. A qualidade do sêmen é checada e este é diluído e utilizado imediatamente. O uso de sêmen congelado na inseminação implica em uma menor taxa de fertilidade.

    A inseminação artificial em ovinos não é comumente utilizada devido à dificuldade causada pela anatomia da cérvix da ovelha, a qual é tortuosa e estreita, dificultando a passagem de pipetas para deposição do sêmen. Para se obter melhor resultado com a inseminação, técnicas mais sofisticadas têm sido estudadas, como a laparoscopia, que consiste na deposição do sêmen diretamente nos cornos uterinos, através de procedimento cirúrgico. Entretanto, estas técnicas exigem mão de obra qualificada e o custo é alto, compensando apenas para animais de cabanha.

    A taxa de concepção de ovelhas submetidas à inseminação artificial tem sido mais baixa quando comparada com a monta natural. Isto se deve a falha da inseminação em propiciar um número suficiente de espermatozóides ativos no oviduto no momento da fertilização. Um número adequado de espermatozóides por dose a ser inseminada é necessário para o sucesso da fecundação. No geral, recomenda-se não se utilizar menos do que 100 x 106 espermatozóides / ovelha quando o cio ocorreu naturalmente e 200 x 106 espermatozóides / ovelha quando o cio foi induzido através do tratamento com progesterona. Se o sêmen foi congelado, um número mínimo de espermatozóides móveis de 400 x 106 / ovelha é exigido no caso de inseminação vaginal, e 25 a 40 x 106 / ovelha na inseminação intra-uterina.

    O tempo ótimo para a inseminação é o meio do estro. No caso de duas inseminações / ovelha, recomenda-se que a primeira seja realizada 12 a 14 horas e a segunda 23 a 25 horas após o início dos sinais e identificação do cio. Como normalmente utilizam-se esponjas vaginais para induzir e sincronizar o cio das ovelhas a serem inseminadas, a inseminação deve ser realizada 56 horas após a remoção das esponjas.

VOLTA