COMO INICIAR UMA CRIAÇÃO DE OVINOS

OTTO DE SÁ,C. & SÁ,J.L.

 

 

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1. QUE TIPO DE PESSOA TEM VOCAÇÃO PARA CRIAR OVINOS

     O ovino foi um dos primeiros animais a ser domesticado pelo homem. Após a domesticação, uma relação de dependência passou a existir entre eles. O ovino se tornou essencial por produzir carne e leite como alimento, e lã para a confecção de roupas. O homem por sua vez, proporcionou um ambiente favorável para o desenvolvimento desta espécie e protegeu os ovinos contra predadores, o que tornou este animal dependente de seus cuidados.

     Normalmente, o que se encontra são informações sobre formas de manejo destes animais, mas por causa da relação existente entre os ovinos e o homem, um ponto chave para o sucesso deste negócio, é saber se identificar ou reconhecer que tipo de pessoa tem potencial para atingir o sucesso com a produção de ovinos. Algumas características que marcam um bom criador de ovinos são as seguintes:

Um forte interesse na natureza e um desejo em trabalhar com o que é vivo. Estas pessoas apreciam lugares abertos, e respeitam a vida porque a consideram preciosa.

Amam os animais e se sentem responsáveis por eles. Se você detestar a aparência, o ruído, o cheiro de um ovino, e somente considera-lo como um produtor de dinheiro, seria melhor escolher outra espécie para criar. A vida é muito curta para ser perdida com um trabalho considerado desinteressante e irritante.

Bons criadores são cuidadosos observadores. Percebem através de um sinal do animal, do ruído que ele faz e até mesmo pelo cheiro, se alguma coisa está errada. Quem tem intimidade com este animal, nota facilmente por exemplo, se um cordeiro perdeu-se de sua mãe, através do comportamento e do som emitido por ambos. Sabe se todos os animais estão se alimentando. Observa as pastagens e determina se estão no ponto de pastejo ou se é hora de mudar os animais de piquete. Está sempre atento, porque uma semana que se descuida de um rebanho ovino, é tempo suficiente para se ter prejuízos com ele. O ovino é uma espécie que necessita do olho do dono.

Como um pastor, o criador de ovinos tem um comportamento de proteção do seu rebanho.

Uma imaginação bem desenvolvida é importante. A habilidade de visualizar uma situação e antecipar os problemas ou as oportunidades é imprescindível.

Paciência, tanto com os animais quanto com as pessoas. Força de vontade para atingir as metas propostas e uma visão otimista da vida.

Uma mente organizada e habilidade para estabelecer rotinas e segui-las.

Natureza analítica. Nenhuma decisão é tomada sem a devida consideração dos fatos, alternativas e conseqüências. Julgamentos repentinos são feitos somente em circunstâncias especiais, quando uma decisão rápida é exigida.

 

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2. FATORES A SEREM CONSIDERADOS NA DECISÃO DE CRIAR OU NÃO OVINOS

 

     O que muitas vezes acontece e que pode ser um desastre para a criação e desanimar os criadores, é adquirir os animais sem antes ter estrutura para recebê-los. É comum ouvir as pessoas dizendo que é preciso criar o problema para daí resolvê-lo. Mas, não queremos criar problemas e, sim, ovinos. Por isso, é importante, antes da chegada dos animais, observar o seguinte:

Disponibilidade de Alimentos

    O primeiro ponto a ser considerado é a alimentação do rebanho. Geralmente os ovinos são utilizados para converter uma larga variedade de forragens e grãos em produtos de consumo para o homem. O pasto ainda é a forma mais barata de alimento, mas pode se tornar caro quando são utilizados solos de elevada fertilidade. A produtividade total destes solos é maior se eles forem utilizados para a produção de silagens e grãos ao invés de pasto. Além disso, os pastos apresentam um crescimento sazonal, fazendo com que em determinadas épocas exista fartura e até sobras, e em outras falte alimento para os animais. Dependendo da disponibilidade de pasto e da exigência nutricional do animal, muitas vezes, pode ser necessária a suplementação alimentar, seja através de forragens conservadas como a silagem, o feno e o pré-secado, seja através dos grãos. Ao se optar por suplementação da pastagem, um controle rigoroso dos gastos com a alimentação é importante.

    A lotação das pastagens é variável em função do sistema de criação empregado. Pode variar em média de 5 a 15 ovinos por hectare, sendo que em sistemas extensivos a lotação é inferior a estes valores e em sistemas intensivos a lotação pode ser maior. O interessante no início, é não trabalhar com a máxima lotação, para sentir a utilização dos pastos pelo rebanho ao longo do ano, e estabelecer o melhor sistema de criação para cada situação, em função da região onde está localizada a propriedade e do objetivo a ser alcançado com os animais.

 

Mercado

    A questão comercial continua a ser um problema para muitos produtores. É importante buscar informações se o produto vai ser facilmente aceito pelo mercado. Quem trabalha com animais não pode esperar uma fase favorável para vender o produto. Não há como guardar os animais e simplesmente esperar. O consumo de alimento além do necessário para atingir o peso de abate de um cordeiro, significa prejuízo. Se você quer produzir cordeiros Karakul (raça produtora de peles nobres), busque informações sobre os detalhes do processamento e venda das peles, antes de iniciar o negócio. Se você gostaria de ser um cabanheiro e produzir raças puras, estude qual é a expectativa de venda e se as raças escolhidas são bem aceitas na região. A falta de conhecimento do mercado é responsável por muitas falências.

 

Condições Climáticas

    Os ovinos são animais que se adaptaram nas mais diferentes condições climáticas. É possível encontra-los no deserto, na neve, nas montanhas, enfim, espalhados por todo o mundo. Entretanto, é importante observar quais raças se adaptam melhor à condição climática de uma determinada região. Um bom exemplo, é a raça Romney Marsh que apresenta um ótimo desempenho mesmo em condições de alta umidade, situação considerada indesejável para a criação ovina. Embora, uma grande parte das raças ovinas são de regiões de clima temperado, existem raças, como as deslanadas e algumas produtoras de lã, que melhor respondem em regiões de clima quente. Parece estranho, mas a melhor lã é produzida por raças especializadas e criadas em regiões áridas, com baixos índices pluviométricos.

    É necessário conhecer a história climática da região. Invernos muito rigorosos com chuva podem causar altas taxas de mortalidade de cordeiros, principalmente em sistemas extensivos de criação. Secas prolongadas aumentam as perdas no rebanho. Calor excessivo é responsável pelo baixo desempenho reprodutivo de machos e fêmeas. As instalações podem propiciar condições ambientais mais favoráveis para os animais, mas o homem não consegue manipular todo o ambiente. É bom ter uma previsão do que pode acontecer em termos climáticos.

 

Disponibilidade de Água

    A disponibilidade de água de qualidade é importante em qualquer atividade agropecuária.

 

Instalações

    A infra-estrutura mínima necessária para iniciar uma criação de ovinos se constitui em um curral, para manejo dos animais, e piquetes com pastagens formadas. Para separar o rebanho em categorias, um mínimo de 5 piquetes é necessário. Para controlar a verminose e trabalhar com rotação de pastagens, é preciso um número maior de piquetes. Os piquetes devem ter sombreamento para proteção dos animais, bebedouros ou aguádas e cochos para fornecimento de sal mineralizado e para suplementação alimentar. Ao sentir que a atividade vai se fortalecendo, outras instalações podem ser construídas como apriscos e currais de engorda de cordeiros (produção de carne).

 

Predadores

    O ataque do rebanho ovino por predadores, como cães e até mesmo onças, em determinadas regiões, pode trazer grandes prejuízos. Por isso, a troca de informações com outros criadores da região sobre este problema entre outros, é importante para tomar as medidas necessárias e corretas para evitar estas perdas. Neste caso, as utilizações de cercas elétricas ou áreas protegidas para recolher o rebanho durante a noite podem ser necessárias.

 

Objetivo da Criação

    Determinar qual o objetivo da criação está relacionado diretamente com o mercado. Atualmente, a produção de lã tem diminuído em função da queda no preço deste produto. As produções de leite ou pele ovina, ainda são atividades muito pouco exploradas no Brasil. O que tem apresentado maior crescimento é a produção de carne ovina. Vale a pena ressaltar, que a ovinocultura tem um grande futuro, entretanto, o mercado precisa ser mais bem organizado e estruturado. Para conquistar o consumidor, é preciso que um produto de qualidade chegue ao mercado de forma constante e uniforme. Para isso, a união de criadores e técnicos através de associações é necessária.

 

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3. A ESCOLHA DOS ANIMAIS

 

     Após este estudo inicial sobre a criação de ovinos, é a hora de adquirir os animais. A escolha da raça está em função da região em que será desenvolvida a criação, do objetivo (produção de lã, pele, leite ou carne) e do mercado. Não adianta escolher uma raça porque tem apenas preferência pessoal. Neste começo, é melhor trabalhar com animais já adaptados às condições climáticas da região. Os animais puros podem ser muito caros para este início, por isso é comum, adquirir um rebanho de fêmeas mestiças jovens (1-2 anos) e saudáveis, e reprodutores de raças puras, de maior valor genético, para ir melhorando o rebanho aos poucos. Já para quem tem interesse em criar animais de cabanha, isto é, reprodutores e matrizes para a venda, o investimento na compra de animais puros, tanto fêmeas quanto machos, é maior.

   Para quem vai comprar animais de uma região distante daquela onde vai ser realizada a criação, é bom saber que em função do estresse da viagem e da adaptação dos animais, no primeiro ano, o desempenho do rebanho não será tudo aquilo que se espera.

    Cuidados devem ser tomados com raças importadas recentemente, cujo número de animais é pequeno no país.     Quando se importam animais corre-se o risco de importar doenças também. Além do que, se as importações não continuarem, chega a um ponto que fica difícil encontrar animais de sangue diferente para serem utilizados no plantel. Outro ponto, é com relação a preços elevados de reprodutores e que empolgam muitos criadores no início. Quando se trabalha com produção de matrizes e reprodutores para a venda, tem que se pensar em quem são os compradores destes animais. Se forem outras propriedades que também trabalham com animais de elite, pode ser que até compense pagar preços elevados por um animal. Mas, não dá para praticar a venda somente entre cabanheiros, o mercado é restrito e na falta de compradores os preços caem. O que sustenta este mercado são os rebanhos comerciais, como por exemplo, aqueles, cujo objetivo é a produção de carne. Mas, no caso dos rebanhos comerciais, se o preço de um reprodutor for muito alto, pode ser que não se consiga recuperar o capital investido através de cordeiros produzidos para o abate. Por isso, praticar preços equilibrados e criar animais de raças bem adaptadas e de maior preferência entre os criadores, diminuem os riscos do negócio.

    No momento de examinar os animais a serem adquiridos é bom ter o auxílio de alguém já experiente na criação de ovinos. Nas ovelhas seria interessante observar o seguinte:

Estado de saúde

Idade (através de informações obtidas de escrituração zootécnica ou através dos dentes)

Úbere

Características raciais (no caso de animais puros)

Informações reprodutivas se existirem (intervalo entre partos, idade ao primeiro parto...)

Peso e Escore Corporal

    Nos machos:

Estado de saúde

Idade (através do registro e da avaliação dos dentes)

Testículos

Características raciais

Peso e Escore Corporal

Exame Andrológico, principalmente para animais de elevado valor comercial

    A relação macho: fêmea a ser utilizada na época de reprodução pode variar em função da idade dos animais, tamanho de piquetes ... Mas, em média, trabalha-se com 35 fêmeas : 1 reprodutor. Portanto, se forem compradas 100 ovelhas, vão ser necessários 3 reprodutores.

 

    Depois da aquisição dos animais, eles devem ser identificados através de brincos e/ou tatuagens. Controlar os animais individualmente através de escrituração zootécnica é fundamental em qualquer criação organizada. Na nova propriedade, os ovinos devem passar por um período de constante observação em uma área de quarentena, para ver se nenhuma doença irá se manifestar. É nesse período que exames de fezes devem ser realizados juntamente com os testes de vermífugos. Um dos maiores problemas enfrentados pela ovinocultura nos dias de hoje, é o uso indiscriminado de vermífugos e como conseqüência à resistência dos vermes a diferentes princípios ativos.

    Com relação ao tamanho do rebanho, se o objetivo da criação for apenas para consumo próprio ou para manter a grama aparada ou como animais de estimação, não há necessidade de muitos ovinos. Mas, para se esperar algum retorno econômico, é preciso atingir o número mínimo de 300 matrizes se a criação for para a produção de carne.

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