ESTACIONALIDADE REPRODUTIVA

 

OTTO DE SÁ, C. & SÁ,J.L.

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ESTACIONALIDADE REPRODUTIVA EM OVELHAS

   O processo reprodutivo dos mamíferos, tanto domésticos como selvagens, é marcado por períodos alternados de atividade e inatividade reprodutiva. Nas fêmeas, estas alternâncias são organizadas dentro de fases distintas. Estas mudanças incluem os períodos de atividade sexual e de quiescência associados com os estágios de estro e diestro do ciclo estral. A alternância entre a fertilidade e a infertilidade está associada a mudanças na estação do ano e com a gestação e lactação. Ocorre também, uma contínua mudança sexual associada com a maturação, idade adulta e envelhecimento dos animais. Todos estes fatores interagem entre si.

    A regulação natural dos fenômenos fisiológicos ligados à reprodução dos animais teve origem na sua adaptação às condições climáticas inerentes ao meio em que habitavam. As maiores possibilidades de sobrevivência das espécies recaem sobre aquelas capazes de gestar e parir em épocas favoráveis ao desenvolvimento de suas crias. Enquanto o período de nascimento nas espécies selvagens acontece invariavelmente na primavera ou no final do inverno, a concepção, ao contrário, tem lugar em diferentes estações do ano. A razão deste fato reside em que, não sendo o período de gestação igual para todas as espécies, a época da atividade sexual e, portanto, da cópula também varia ao longo do ano.

    Com base no fotoperíodo, os animais foram classificados em dois tipos: animais de dias longos, no qual se incluem os eqüinos e os bovinos, cuja atividade sexual se manifesta após o solstício de inverno, ou seja, quando os dias crescem, e animais de dias curtos, no qual são inseridos os ovinos, caprinos e suínos, cuja atividade sexual se manifesta após o solstício de verão, ou seja, quando os dias decrescem.

    Os eqüinos podem conceber na primavera, dado que seu período de gestação de onze meses possibilita nascerem suas crias na mesma estação no ano seguinte, pois se mantêm protegidos pelo ventre dos rigores do inverno. Já os caprinos e ovinos, por perderem sistematicamente suas crias nascidas no inverno, têm como única opção de sobrevivência a parição na primavera, resultante das fecundações de outono. Em algumas espécies, como a bovina e a suína, entretanto, as modificações impostas pela domesticação foram tão intensas, que estes animais passaram a conceber e parir em qualquer período do ano. Em todos os casos, porém, as espécies domésticas conservam subjacentes os mecanismos fisiológicos ligados a estacionalidade apesar dos muitos milhares de anos da domesticação. Por isso, é possível um retorno ao estado primitivo, desde que o processo seletivo venha a ser interrompido. Os ovinos, apesar de séculos de domesticação, ainda exibem uma marcada estacionalidade reprodutiva.

    Apesar da estacionalidade ser de grande importância para animais selvagens, muitas vezes ela é um obstáculo para o aumento na produtividade ovina. A incapacidade das ovelhas de regiões temperadas ciclarem na primavera limita a realização de programas acelerados de parições e a obtenção de mais partos na vida de uma fêmea ovina. Além disso, fica difícil a comercialização dos animais. Se a reprodução é estacional em ovinos, conseqüentemente, a produção de cordeiros também será, causando um severo problema para organizar e estabilizar o mercado da carne ovina.

    A origem geográfica dos animais e a latitude na qual se encontram são importantes fatores que condicionam o efeito da luz sobre a atividade reprodutiva dos ovinos. Aqueles que se originaram ou que estão localizados em uma região próxima da linha do equador, a estacionalidade reprodutiva não é tão evidente. A influência do fotoperíodo é maior quanto maior for a latitude. Por isso, as raças de lã grossa, originárias de regiões mais próximas do pólo, mostram-se mais sensíveis ao fotoperíodo do que as raças de lã fina ou as deslanadas, que têm origem em zonas mais próximas do equador. Por se tratar de uma condição transmissível, raças derivadas de cruzamento lã grossa x lã fina mostram comportamento intermediário.

    As ovelhas também apresentam o anestro pós-parto. Na fase de lactação, dificilmente observa-se ocorrência de cios. Este anestro é mais intenso porque existe um fator fisiológico: a lactação, e um fator ambiental: o aumento no comprimento dos dias (primavera), que impedem as fêmeas de ciclarem. O comprimento do anestro pós-parto é afetado pela estação do ano, pela raça, pela presença do cordeiro e pela lactação.

    A maior ocorrência de cios ocorre no final do verão e no outono, entretanto, existe variação principalmente em função da raça. Raças mais estacionais, como por exemplo a Romney Marsh (lã grossa), apresentam um período reprodutivo curto, com uma duração de 9 semanas, o que permite a ocorrência de no máximo 3 cios. Já as raças menos estacionais, como a Merino (lã fina), apresentam um período reprodutivo mais prolongado, de 25 semanas. Considerando que as ovelhas entram em cio a cada 16-17 dias, 25 semanas permitem a ocorrência de uma média de 10 cios (se elas não forem cobertas).

 

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Figura 1 – Representação esquemática da concentração de cios de ovelhas das raças Merino e Romney Marsh ao longo do ano.

 

 

    Outros fatores além da luminosidade e da raça, podem afetar a duração do período reprodutivo. Por isso, existem técnicas naturais de manejo, que são utilizadas na tentativa de induzir o cio das ovelhas em período de anestro sazonal, tais como: desmame precoce, efeito macho e nutrição adequada.

 

 

ESTACIONALIDADE REPRODUTIVA EM CARNEIROS

   A produção espermática ocorre durante todo o ano, porém, sua capacidade fecundante se mostra superior no outono e inferior na primavera, atestando o efeito do fotoperíodo. Esta constatação é feita quando os reprodutores estão submetidos a condições alimentares satisfatórias. No caso de animais a campo, entretanto, o efeito alimentar mascara o fotoperíodo, resultando em uma qualidade de sêmen pior no inverno do que na primavera. Isto se deve ao estresse alimentar pelo qual passam os animais nesta estação, principalmente em sistemas extensivos.

    Embora o carneiro sofra influência do fotoperíodo, sua reação é diferente da ovelha. O aumento do diâmetro testicular tem início ainda no fotoperíodo crescente, embora o efeito maior acompanhe a fase descendente da luminosidade. A explicação deste fato biológico se baseia em que, enquanto a existência de folículos no ovário da ovelha durante o anestro permite rápida maturação e ovulação, a formação espermática e a ejaculação de um carneiro emergente da estação anestral nunca se realizam em menos de dois meses. Em condições naturais, o carneiro apresenta um ciclo de peso testicular por ano.

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CLASSIFICAÇÃO DAS RAÇAS DE ACORDO COM A ESTACIONALIDADE REPRODUTIVA

 

ESTAÇÃO REPRODUTIVA PROLONGADA

ESTAÇÃO REPRODUTIVA DE DURAÇÃO MÉDIA

ESTAÇÃO REPRODUTIVA CURTA

SANTA INÊS

BERGAMÁCIA

ROMNEY MARSH

MORADA NOVA

CORRIEDALE

TEXEL

DORPER

IDEAL

SUFFOLK

KARAKUL

ILE DE FRANCE

HAMPASHIRE DOWN

MERINO

 

BORDER LEICESTER

DORSET

 

 

RABO LARGO

 

 

Obs.: Fatores como o ambiente, a nutrição, o efeito macho, podem alterar a duração da estação reprodutiva e do anestro sazonal das diferentes raças.

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